Blues


Daqui a alguns anos você estará mais arrependido pelas coisas que não fez do que pelas que fez.
Então solte suas amarras.
Afaste-se do porto seguro.
Agarre o vento em suas velas.
Explore.
Sonhe.
Descubra.

Mark Twain

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Indelével


Há um copo em suas mãos e ele olha inexpressivamente para as duas pedras de gelo derretendo no fundo.
Ele olha para o passado, confuso.
Seu passado derrete ali, acompanhando as pedras.
Ele leva a mão ao bolso, para a carteira de cigarro. Não fumava desde que ela se foi, mas fazia questão de manter uma carteira por perto.
Bebe o último gole do gim.
O último gole do seu passado. Desce arranhando a garganta.
Ele sabe que vai vomitar tudo mais tarde, que o passado é difícil de ser engolido, mas pouco importa naquele momento.
Bem pouco.
 "Ei, amigo", um homem resolve perguntar. Um desconhecido. "Não acha que já tá na hora de parar? Faz tempo que você... você sabe."
É, ele sabe. Seu estado é lastimável e seu corpo é só uma carcaça esperando pelos abutres.
 "Eu sei.", responde e levanta. Está trôpego. "Faz mais tempo do que imagina. E você não é a primeira pessoa que chega pra mim e diz que já tá na hora de parar. Porque a primeira fui eu mesmo."
 "E o que lhe faz continuar, amigo?"
 "Eu não sou seu amigo..."
 "O que lhe faz continuar?"
 "Todos os dias me faço essa mesma pergunta. É em busca dela que venho para cá. E a resposta parece cada vez mais distante."
"Talvez a resposta não esteja aqui."
"Talvez."
"Você..."
Ele dispensa o comentário do cara com um gesto de descaso e coloca o dinheiro no balcão. Em seguida dá as costas e sai do bar. O passado agora pesa em seu estômago, é uma bola de concreto.
Ele caminha por minutos eternos.
Até acreditar que se sente melhor, mas nunca está. Por mais que tudo pareça uma melhora, não é.
Ele olha para o céu, para uma lua que ri de seu estado.
Suspira.
E acende o cigarro.

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